14º Cine Congo celebra a diversidade cultural do Cariri paraibano
- João Paulo Lima
- 13 de out.
- 10 min de leitura

Foto: Kennel Rógis
Um dos mais tradicionais festivais de Cinema da Paraíba, o Cine Congo, trouxe em mais uma edição uma rica programação para o público. Além do cinema, o festival celebra a diversidade cultural do Cariri da Paraíba, com apresentações de grupos das cidades que fazem parte da região, presenteando a população congolense e convidados com a união de uma grande diversidade de estilos e faixas etárias diferentes. Para o idealizador e Coordenador do festival, José Dhiones, o Dhiones do Congo, quando se trata dessa integração entre diversas linguagens artísticas, o evento é uma referência:
“O Cine Congo é um evento que agrega muitas culturas. Além das mostras de filmes, nós temos dança, música, teatro e artesanato. O que o festival tem proporcionado nesses anos, tem sido um desbravador dentro do território do Cariri e no estado da Paraíba.” Afirma.
A programação teve início já no último dia 29 (segunda-feira) com a realização do Cortejo da Arte pelas principais ruas da cidade e participação de representações de todas as escolas públicas do município, Serviço de Convivência, grupos culturais e bandas marciais das cidades do Congo, Camalaú, Caraúba e São José dos Cordeiros, anunciando o início das festividades em uma animada caminhada, apresentando os estandartes e toda a reverência dos mascotes que fizeram companhia ao “Conguinho” que já é sucesso com a criançada no festival.

Dhiones do Congo - Realizador do Cine Congo / Foto: Kennel Rógis
Mostras infantis
Dos dias 30 de setembro a 03 de outubro, foi a vez da criançada ser contemplada com cinema nas escolas através das mostras de filmes infanto-juvenis: “Moisés Farias”, na comunidade território quilombola Riacho do Algodão. “Everton Vinícíus” para as escolas do município. “Ricardo Duarte”, para os estudantes do Ensino Médio e a “Mostra Conguinho”, na Creche Municipal.
As ações dessas mostras, que contemplaram escolas do município, desde as da Zona Urbana e principalmente as Escolas do Campo, levando para crianças da cidade do Congo a oportunidade de assistir aos filmes exibidos pelo Festival, garantindo assim a democratização e de forma lúdica, o acesso à cultura através do cinema, unindo forças da arte cinematográfica com a educação.
Mostra Principal
Realizada na Praça do Peixe, no centro da cidade, a Mostra Brasil reuniu filmes de várias regiões, apresentando ao público uma programação que emocionou, conscientizou e divertiu com filmes de indicações livres, aos quais as famílias presentes puderam curtir e aproveitar juntos.
Os filmes selecionados foram: “A edição do nordeste” - Doc. Pedro Fiuza (RN). “Buraco de minhoca” - Fic. Marília Hughes e Claudio Marques (BA). “Guarapari revisitada” - Doc. Adriana Jacobsen (SC). “Azul Marinho” - Fic. Stefhany Gabriely e Paulo Conceição (PE). “Suspiro” - Fic. Nil Marcondes (PB). “Gilmar Ventura - o colecionador de histórias” - Doc. Rafael Ferreira (PB). “Americana” - Fic. Agarb Rocha (PA). “Seco” - Fic. Stefano Volp (RJ). “Aquilo que não nos deixam contar” - Doc. Rafael Ferreira (PB). “Tempo de vaqueiro” - Doc. Ramon Batista (PB). “A botija, o Beato e a Besta Fera” - Fic. Túlio Beat (PE). “Marilak” - Fic. Carlos Mosca (PB). e o lançamento de “Cantilena” Fic. Dhiones do Congo (PB).
Fotos: Kennel Rógis
Propostas de formação
Tão importante quando a exibição de filmes nos festivais e mostras de cinemas, são as ações de formação na área de audiovisual, pois elas colaboram para a criação de novos públicos e de novos trabalhadores e trabalhadoras no setor, além de serem ótimas experiências de vivências para crianças, jovens e adultos que participam das ofertas de formação através das oficinas, workshops e palestras.
Como propostas de oficinas, o Cine Congo contemplou o seu público com uma variedade de ações formativas que ocorreram de 29 de setembro a 04 de outubro, em escolas públicas e Serviço de Convivência do Congo, tendo como convidados, profissionais renomados na área de audiovisual que compartilham um pouco de seus conhecimentos com os participantes.
As oficinas ofertadas foram: oficina de atuação com Joana Marques. Produção Audiovisual com João Paulo Lima. Fotografia com Carla Batista. Maquiagem para Cinema, com Andrea Ferreira e oficina de LIBRAS com Clara Lucivânia, que enfatiza ainda mais a importância de promover a acessibilidade nos eventos culturais e artísticos, que é outra característica comum do Cine Congo enquanto evento cultural.
Ao citar a abrangência e diversidade do público alcançado pelas oficinas, Dhiones destaca a importância de fortalecer o potencial da sociedade em diversas camadas sociais, que vão desde crianças a idosos. Para ele, a essência das oficinas passa pelo princípio norteador da formação de público e é a partir dessas ações que eles comecem a entender como é que funcionam os segmentos artísticos, e se tornando apreciadores das ações culturais que são ofertadas na cidade, além de despertar nas pessoas o desejo de fazer arte.
Fotos: Kennel Rógis
Apresentações artísticas e culturais
Para além do cinema, as atividades culturais e apresentações artísticas que fizeram parte da programação do Festival são uma celebração da arte pulsante no Cariri paraibano região que contempla 19 municípios, tendo participação de grupos de diversas cidades e também apresentando uma variedade de linguagens artísticas como dança, música, teatro e tradições populares, com destaque para os bacamarteiros da cidade de Coxixola e também do próprio município, que aos sons de seus disparos que ecoaram pela cidade, fizeram dos canos de seus bacamartes anúncio de festa e celebração popular.
O festival também pode contar com as apresentações de grupos de Ballet do SCFV e Grupo Estrelas da Dança (São José dos Cordeiros - PB), Orquestra Sanfônica Dejinha de Monteiro UEPB (Monteiro-PB), Ballet do SCFV e Jazz Dance (Serra Branca - PB) e Grupo Brincantes de Jataúba (Jataúba-PE), que já tem parceria há anos com o Festival. Ainda na programação foi realizado o primeiro Encontro Regional de Idosos do Cariri, um momento de muita alegria, com comida, dança, bingo e diversas festividades que reuniram idosos de várias cidades da região.
Assim como em edições anteriores, mais uma vez a parceria do Cine Congo com o grupo ciclístico Pedala Congo foi um sucesso, fazendo parte do encerramento do Festival com um passeio ciclístico pelas principais ruas da cidade, envolvendo ciclistas e entusiastas de todas as idades numa divertida atividade física.
Perguntado sobre o que representa a iniciativa do Festival de agregar tantos municípios vizinhos e linguagens diferentes, Dhiones fala sobre o fato de que esses grupos culturais se preparam também durante o ano para participarem do Cine Congo, uma vez que, segundo ele, o território do Cariri ainda é um território carente em questões de eventos culturais, artísticos, de cultura popular, e o Festival surge também como essa janela de oportunidades e valorização da cultura. Ele também destaca o quanto agregam valor e atrai o público, aumentando a participação popular nos festejos cinematográficos e culturais do Cine Congo, que comparecem para prestigiar as performances culturais apresentadas.
Apresentações Culturais e Artísticas no Festival / Fotos: Kennel Rógis
Participação Popular
Notoriamente o Cine Congo é um dos festivais do interior da Paraíba que melhor apresenta a essência de alcançar o público local de forma cativante, um evento que conta sempre com a participação da população de forma maciça e cumpre seu papel de popularizar a sétima arte, que muitas vezes em outros festivais, está presente apenas no glamour das salas de exibição em cidades maiores e tem como público pessoas do meio, críticos e intelectuais.
Ao longo das 14 edições, o festival vem fortalecendo e renovando seu público a cada uma delas. Isso se dá muito ao fato de como as ações são planejadas e executadas por toda equipe de organização, que vai desde um cortejo pelas ruas da cidade com participação de escolas e outros segmentos sociais, anunciando o início do festival para toda a população que é envolvida pela animada caravana, até a realização de um concurso nas escolas para a escolha da “Princesa do Cine Congo”, que se torna mais uma forma de envolver a comunidade com o evento e consequentemente, despertando a curiosidade e o desejo de participar de toda a programação.
Outra característica que lhe é peculiar: o festival não conta com Júri Técnico. Uma votação popular é quem define quem são os filmes vencedores de cada noite e esse fato também tem grande influência na presença da comunidade local, uma vez que traz para eles através da interatividade, um sentimento de pertencimento e importância, ao votar e escolher seu filme favorito o Festival considera que são muito mais que espectadores, mas sim verdadeiros “críticos” destacando a importância de suas percepções sobre os filmes exibidos.
“Essa forma de popularizar o Festival, trazer ele para mais próximo das pessoas, tem feito o Cine Congo ser o que é hoje, com essa grande adesão da população em participar, querer votar, escolher o filme, e é perceptível na hora da votação que as pessoas ficam curiosas em quem é que vota em quem.” Diones do Congo
O realizador ainda afirma que: "É um festival que se preocupa há 14 anos nesse sentido de popularizar, de trazer o cinema mais próximo, para as pessoas de uma forma mais acessível e democrática, essa é a função do cinema, principalmente no interior da Paraíba, que é tão carente de eventos artísticos, culturais.”
Impulso da economia
Toda essa movimentação na cidade e as atenções voltadas para o Congo, geram ótimas oportunidades de negócios e movimenta o comércio local e regional durante a realização do Festival e que é um exemplo de como aproveitar bem essa oportunidade ao realizar dentro de sua programação a Feira Cultural e Criativa, uma iniciativa que movimenta de forma direta a geração de renda e empregos para artesãos e donos de pequenos negócios locais. Segundo a organização, na realização da edição anterior, foram movimentados mais de 30 mil reais em vendas durante o período do Festival.
Essa iniciativa propõe mobilizar todo o território local e regional, transformando a cidade de Congo em um epicentro de oportunidades entre o setor audiovisual e o empreendimento local, através de ações como a Feira Cultural e Criativa, oportunizando o fomento do artesanato e da gastronomia. A realização da feira conta com o apoio da Prefeitura Municipal de Congo, Rede Vida Mulher, Secturdes, SEBRAE e do Pacto Novo Cariri.
Homenageado
A 14ª edição do Cine Congo teve como homenageado o cineasta, diretor de teatro, tatuador e multiartista Ismael Moura pelo conjunto de sua obra e das grandes contribuições para o cinema paraibano. Atualmente, também é o diretor da Paixão de Cristo de Cuité, o maior espetáculo de teatro a céu aberto no Estado da Paraíba. Ismael é diretor do curta-metragem “Ilha” que traz o título de curta com maior número de premiações recebidas do estado, somando mais de 110 prêmios em festivais nacionais e internacionais. Participou de várias produções cinematográficas paraibanas, como: “Sofhia” de Kennel Rogis; “O lendário” de Marcelo Quixaba, “Ultravioleta” de Dhiones do Congo, “Aroeira” de Ramon Batista, entre outros.
Para Ismael, ser homenageado pelo Cine Congo tem um significado muito importante, já que foi o primeiro festival que ele foi premiado como cineasta e deu início a sua premiada carreira como diretor de cinema: “Foi o primeiro festival em que eu participei, o meu primeiro troféu de cinema foi no Cine Congo. Então, eu tenho um carinho muito especial pela cidade e pelo festival em especial. Você ser homenageado já é bom, ainda mais quando vem de um festival que tem um grande valor sentimental para você, é algo indescritível.”
Dhiones também destaca a importância de homenagear artistas que são próximos, possibilitando a participação no festival, aproximando ainda mais o público, e no caso de Ismael, dando exemplo de como é possível que pessoas de cidades do interior do estado possam se destacar pelo trabalho que fazem na arte do cinema e fazer história: “Não é porque nós estamos numa cidade pequena do interior que a gente não possa ter essa noção de que podemos alcançar qualquer coisa que a gente queira. Pode sonhar, realizando grandes feitos, mesmo sendo de cidades do interior.” Afirma.
Fotos: Kennel Rógis
Desafios
Realizar um evento desse porte e com a importância que o Cine Congo apresenta não é fácil, manter essa realização durante anos e ampliar o seu sucesso e o sentimento de pertencimento nas pessoas em cada edição realizada, é ainda mais desafiador, principalmente quando se trata de uma cidade no interior paraibano, onde realizar algo do tipo significa um ato de braveza, de muita luta e coragem. (falo enquanto realizador também).
Com Produção da Rupestre Filmes, o Cine Congo - Festival Audiovisual da Paraíba conta com patrocínio do Edital Wladimir Carvalho, FIC Fundo de Incentivo a Cultura Augusto dos Anjos, CAGEPA, Secretaria de Estado da Cultura, Governo da Paraíba. e ainda com o apoio da Prefeitura Municipal do Congo, Associação Cultural do Congo, SEBRAE, Pacto Novo Cariri, R Freitas, SECTURDES, Rede Vida Mulher, Secretaria Municipal de Assistência Social, Secretaria Municipal de Educação, Secretaria Municipal de Infraestrutura, Pedala Congo, Grupo Sem Destino, Secretaria Municipal de Saúde, Educandário Sagrado Coração de Jesus, Creche Municipal, ECIT Manoel Alves Campos, Escola Municipal do Congo, Museu Casa da Cultura Mira Ramos.
Quando se fala de políticas públicas de apoio ao desenvolvimento de atividades artísticas e culturais, a Paraíba é um estado que tem muito a caminhar. Apesar da terceira edição do edital de Apoio e Incentivo a Festivais e Mostras de Cinema no Estado lançado pela CAGEPA, ainda é preciso a criação de uma política pública contínua, para que os realizadores tenham certeza que poderão produzir seus eventos todos os anos, isso fortalece os festivais e mostras, amplia a formação de público, e beneficia toda a população com circulação financeira e oferta de atividades artísticas e culturais nos municípios onde são realizados.
Os desafios que são enfrentados são muitos, a realização do Cine Congo é uma prova de que a persistência premia quem não desiste, manter a essência do festival é uma vitória que Dhiones do Congo e toda sua equipe de produção enfrenta a cada ano, porém há satisfação em ver as coisas acontecendo, sendo realizada de modo como o planejado.
Segundo as palavras do Coordenador: “A realização do Cine Congo tem sido uma construção. Cada ano é uma nova experiência, um novo aprendizado, um novo desafio também. Então, isso faz com que cada vez mais aumente a responsabilidade diante de toda a população do município e das cidades circunvizinhas, que veem o Cine Congo como essa janela de oportunidades.”
Sobre a realização das próximas edições, Dhiones se diz otimista: “Espero que em 2026 consiga oferecer muito mais oficinas de formação, já que são importantes no processo de construção das pessoas e formação de público, porque sem público não conseguimos fazer arte. Então, buscar cada vez mais trabalhar com responsabilidade e compromisso de que sempre iremos fazer o melhor para o desenvolvimento do nosso território enquanto cariri paraibano.”
Confira a galeria de fotos
Fotos: Kennel Rógis
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Reportagem: João Paulo Lima
Fotografia: Kennel Rógis (Cine Congo)
Revisão de Texto: Marcele Saraiva
Redes Sociais: @primeiroframe @cinecongofestival
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