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FESTCIMM promove cinema inclusivo no Instituto dos Cegos de Campina Grande

  • Foto do escritor: Marcele Saraiva
    Marcele Saraiva
  • 7 de nov.
  • 4 min de leitura
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Foto: João Paulo Lima


No dia 05 de novembro, o FESTCIMM (Festival de Cinema no Meio do Mundo) realizou, pela primeira vez, sessões de filmes no Instituto dos Cegos de Campina Grande (ICENO) voltado para pessoas com deficiência visual. Coordenado pelo diretor e roteirista Tiago A. Neves, o projeto reúne cineastas de diversas regiões do país com o objetivo de democratizar o acesso ao cinema brasileiro, levando produções que, embora não ocupem os cartazes das grandes salas comerciais, carregam um enorme valor social, artístico e cultural.


Desde sua criação em 2019, o Festival tem a inclusão e a acessibilidade como pilares fundamentais, buscando ocupar espaços diversos e torná-los acolhedores a todos os públicos. Em parceria com o Instituto dos Cegos, reforça o compromisso de garantir o direito de todos ao acesso à sétima arte. Durante a programação foram exibidos oito curtas-metragens, sendo quatro pela manhã para os adultos, e quatro à tarde, direcionados às crianças com até 12 anos.


As sessões contaram com o trabalho de audiodescrição realizado pela professora campinense Nayara Viturino, que atua no ICENO há cerca de 12 anos. Com sua oralidade, entonação e sensibilidade, a profissional auxiliou na compreensão do conteúdo das obras ao transformá-las em uma experiência mais imersiva para o público. Nayara  ressalta sua satisfação: 


“A experiência foi maravilhosa por poder contribuir para que esse espaço se torne mais acessível para as pessoas com deficiência. A partir do momento em que a gente faz e realiza um trabalho assim, é sinônimo de dever cumprido, como pessoa, como humana, como profissional da área, por estar contribuindo para uma sociedade inclusiva."

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Nayara Viturino realiza a audiodescrição / Foto: João Paulo Lima


As histórias exibidas retratam temáticas sensíveis, poéticas, culturais e linguísticas, causando identificação e emoção nas pessoas. O professor e escritor Nivaldo Rodrigues, foi o responsável pela curadoria dos filmes, se preocupando em facilitar a conexão e a absorção do público com as histórias: “A ideia de produzir uma sessão intitulada Sentidos Livres buscou filmes que pudessem sensibilizar por sua história e pela narrativa, porque o desafio é exatamente esse: construir imagens a partir da audiodescrição do que já está pronto. Então a curadoria foi buscando, observando, estabelecendo filmes que pudessem criar essa narrativa mais imediata com a do próprio diálogo e principalmente com a que pudesse facilitar a absorção da história.” -  Explica o curador.


O público recebeu bem a iniciativa do projeto e expressou entusiasmo diante das exibições. John Queiroz, que possui deficiência visual e esteve prestigiando os filmes, comentou sobre a importância da presença da audiodescrição, principalmente em produções cinematográficas mais contemplativas:


“Sem a audiodescrição estaríamos perdidos. Eu gosto daquela que você solicita e não da que fica o tempo todo martelando, mas reconheço que na animação fica muito vazio e, se não houver audiodescrição fica difícil de rebuscar o roteiro. Eu acho que Nayara fez muito bem isso e parabenizo Nivaldo e sua equipe por nos oportunizaram esse espaço tão gostoso.”

A experiência também carrega um significado profundo para Bianca Brunet, que é deficiente visual e integrante do Cinema no Meio do Mundo há cerca de dois anos. Por conhecer ambos os lados de perto, ela carrega consigo as duas perspectivas: “Foi muito especial para mim estar nessa sessão. Eu ainda tenho a possibilidade de enxergar devido a lente de contato, mas ao retirá-la não consigo. Então teve um momento ali que eu fechei os olhos e também quis me sentir pertencente, junto à eles, junto às crianças. Eu queria compartilhar essa experiência junto porque eu também passo por isso.”


A sessão foi cuidadosamente pensada para que usuários do ICENO pudessem sentir o cinema em sua forma mais pura. Por alguns instantes, pareciam ser transportadas para outros mundos guiados apenas pelas palavras, pelos sons e pelas emoções que as histórias despertavam. Foi um momento em que cada pessoa encontrou um sentido próprio. Destacando a importância social da iniciativa em tempos de crescente desigualdade, John Queiroz ainda ressalta que viver a arte é, acima de tudo, inclusão e humanidade:


“O cinema precisa ser visto com mais carinho e com mais cuidado. Eu fui de uma época em que uma das diversões principais era ir ao cinema e, hoje, o acesso a ele é muito difícil, principalmente para as camadas com menos recursos. Essa produção mais simplificada e mais nacionalista traz essa possibilidade de aproximar o povo do cinema, e eu parabenizo vocês pela coragem e por estarem ofertando essas novas oportunidades.”

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O público infantil aproveita a sessão de filmes / Foto: João Paulo Lima


O FESTCIMM, além de contribuir para a difusão e valorização de produções e artistas regionais, também permite que a sétima arte alcance pessoas que não têm acesso fácil ou que talvez nunca tenham estado dentro de uma sala de cinema. A união desses cineastas representa a força da cinematografia nacional e se torna ainda mais humana ao buscar transformar os espaços em ambientes acolhedores e acessíveis para todos, seja por meio da audiodescrição, da presença de intérpretes de Libras, de legendas ou de rampas de acesso. 


É a partir de iniciativas como essa, que o público, com ou sem deficiência, pode aproveitar as produções audiovisuais da melhor maneira possível, usufruindo do festival com dignidade e respeito aos direitos estabelecidos. Em tempos em que o acesso à cultura ainda é excludente para muitos, o FESTCIMM se torna um exemplo de que democratizar o cinema é democratizar também o olhar e ensinar novas formas de enxergar o mundo.


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EXPEDIENTE

Fotografia: João Paulo Lima

Revisão de Texto: João Paulo Lima

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