Fotógrafo de Juripiranga é pioneiro ao realizar exposição na cidade
- Marcele Saraiva
- 15 de out.
- 4 min de leitura

Foto: Rafael Soares
Nas memórias, carregamos fragmentos essenciais de quem somos: experiências que nos moldaram, lembranças das pessoas que nos marcaram e dos lugares que passamos. Ao mesmo tempo que as memórias possuem um vínculo com o passado, elas também revelam muito sobre o nosso presente. Mas seria possível retratar o encontro de duas temporalidades?
Esse foi o desafio que João Paulo Lima, fotógrafo, produtor cultural, cineasta e coordenador do Cine Paraíso, assumiu em uma etapa de sua vida. A resposta para essa pergunta vinha lhe rondando a cabeça desde 2021, mas só ganhou forma neste ano, através de uma de suas formas mais genuínas de expressão: a fotografia.
Com o apoio da Lei Paulo Gustavo, a exposição “Memória Fotográfica” foi apresentada ao público no dia 24 de setembro, no Salão Paroquial da cidade de Juripiranga - PB, através de trinta quadros. O evento ficou aberto ao público por três dias e reuniu familiares, amigos, pessoas da comunidades e alunos de escolas da rede Pública de Ensino, como a Escola Salvino João Pereira, Demétrio Tolêdo e Teonas da Cunha Cavalcanti.
A fotografia como arte
A fotografia está profundamente ligada à vida de João Paulo, muito antes dele se formar em fotografia pela Universidade Cruzeiro do Sul, em 2023. O que começou como um hobby se tornou posteriormente uma profissão e uma maneira de se expressar.

Foto: Rafael Soares
“A fotografia é uma arte mágica. Poder emprestar meu olhar, uma forma de dizer pra todos qual a minha forma de ver o mundo, é maravilhoso. Isso é fantástico porque cada olhar sobre o mundo é único, muito subjetivo, individual. A fotografia é importante nesse sentido: ser uma forma de me expressar e poder dizer para cada pessoa que tem contato com minha arte, um pouco de como eu sou, através da forma que vejo o mundo e posso entregar isso nas imagens que são pequenas fatias de memórias.” Coincidentemente, foi a primeira exposição fotográfica realizada na cidade e também a primeira do fotógrafo.
Histórias que resistem ao tempo
Fascinado pelo universo de ouvir e contar histórias, João Paulo visitou e retratou o passado de cinco personagens com mais de 60 anos:
Um deles é José Rodrigues de Lima, conhecido como Dean, morador de São José dos Ramos e um dos primeiros homens a se assumir abertamente LGBTQIPNA+ em sua comunidade. Há também Maria do Carmo da Silva, a Dona Mô, organizadora do grupo de brincadeira de índio em Itabaiana; Josefa de Paiva Lima, a Dona Zezé, moradora de Juripiranga, mulher forte que convive com a solidão e a saudade do marido, filhos e netos; Expedito Francisco Gonçalves, que liderou a luta pela posse da terra de Alagamar, em Salgado de São Félix; e Luzia de Paiva Santos, residente da comunidade quilombola do Matão em Mogeiro, que começou a trabalhar no roçado aos sete anos.
“É um projeto que foi feito com alma, com coração, com propósito. Nenhum personagem foi escolhido à toa!”
Exposição Fotográfica / Fotos: João Paulo Lima
Como o fotógrafo afirma, nenhum deles foi escolhido sem motivo. Os personagens são representantes de suas comunidades e guardiões de histórias, saudades, conquistas, tradições e hábitos que significam muito mais do que realmente aparentam, e construíram esse legado através da própria essência e das lutas que travaram, tanto em busca de uma vida mais digna para si ou para as pessoas ao redor.
O olhar sobre as lembranças
Para retratar as histórias, João Paulo fotografou ambientes, pessoas e objetos que marcaram as vidas deles, como a casa onde Dona Zezé nasceu e cresceu, na Vila Olho D’Água; o poste de luz que simboliza a luta de seu Expedito para levar energia elétrica à sua comunidade; o cachimbo e o quadro de um grande amor de Dean que mora no Rio de Janeiro; os adornos de Dona Mô, que fazem com que ela sinta a presença do pai já falecido; e o roçado e a família para quem Dona Luzia tanto se doa.

Exposição Fotográfica / Foto: João Paulo Lima
A fotografia nesse projeto, não é apenas estética, foi usada como um ato de resistência contra o esquecimento, para que as histórias deles não se percam com o passar do tempo e que recebam reconhecimento pelos feitos que realizaram.
“Ainda não consigo processar tudo o que foi e o que está sendo essa exposição, mas os relatos recebidos já fizeram valer todo o esforço. Se a arte não tiver o poder de tocar alguém, ela perde o sentido. Diante disso, afirmo sem a menor sombra de dúvida, eu me sinto realizado!”, declarou o fotógrafo.
Um portal entre o ontem e o agora
“Memória Fotográfica” é como atravessar um portal entre o presente e o passado, e ao retratar pessoas reais de uma maneira tão simples, com sentimentos que nos pertencem também, faz com que o público identifique suas próprias histórias através dos personagens. Em cada imagem, nos vemos refletidos. A cada clique, viajamos no tempo, nas memórias da nossa infância, dos nossos avós, das pessoas que já partiram, das casas que hoje possuem outros donos, mas que foram nossas testemunhas de tantos anos vividos.
Em breve, a exposição seguirá para outras cidades e apresentará também novos personagens, reafirmando que toda história merece ser contada e carrega, sim, o seu valor, reveladas através do olhar sensível do fotógrafo.
Fotos: Rafael Soares e Nazário Bezerra
EXPEDIENTE
Reportagem: Marcele Saraiva
Fotografia: Rafael Soares e Nazário Bezerra
Redes Sociais: Memória Fotográfica João Paulo Lima
Comentários